domingo, fevereiro 20

Brasileiros têm mais dinheiro na Suíça...


Recordações dos tempos em que o Governo controlava a livre circulação de moedas


A manchete de O Estado de São Paulo, de hoje, dia 20 de fevereiro de 2011, pg B1, diz que 

“Brasileiros têm mais dinheiro na Suíça do que chineses, indianos ou árabes”.

Isso me trouxe recordações de uma ocasião em que eu, National Manager da LPM-Burke e representante da Burke International no Brasil, estava em nova York para uma reunião internacional da companhia.

Na época da ditadura, lá nos idos 80, houvera vária crises que mudaram os rumos mundo. O petróleo valorizou-se e alguns príncipes árabes esbanjavam tanto dinheiro que a imprensa noticiou  o caso daquele magnata árabe que, no aeroporto de Londres, ao descer de uma limusine de luxo,  comprada apenas para o fim de semana, deixou o carro como gorjeta para o motorista.

Aproveitando minha estada em Nova York, um representante de um banco americano pediu um encontro comigo. Ele queria promover uma pesquisa junto a clientes brasileiros que mantêm (ou mantinham) contas pessoais em Nova York, com aplicações financeiras acima de um piso mínimo  de um milhão de dólares. Pedia uma amostra relativamente grande, algo como 100 entrevistas. O objetivo dele era saber como montar um produto financeiro que atendesse especificamente a esse público.

Ponderei que isso seria um projeto inviável. Onde iríamos achar tanta gente com conta corrente e aplicações financeiras fora do País, em plena crise, retração econômica no Brasil, economia fechada, governo severamente ditatorial que coibia até a posse de moeda estrangeira, se não mediante autorização prévia do Banco Central, obtida apenas em casos excepcionais através de complicados processos?

Primeiro ele estranhou a minha reserva, depois sorriu com ar superior e revelou-me que as aplicações de brasileiros nos bancos de Nova York rivalizavam com as dos árabes. Isso qualquer banqueiro americano sabia, pois era um fato retratado nas estatísticas oficiais dos bancos americanos. Na verdade, assegurou-me ele, brasileiros eram o segundo maior grupo de investidores  da carteira de clientes estrangeiros do seu banco - uma instituição com presença significativa no mundo todo.

Coisa inteiramente natural e legal.  Nos Estados Unidos. Ou na Suíça. Mas não no Brasil da época. 

O projeto acabou não acontecendo. 

E hoje?

Se você acha que os sultões árabes são ricos além da nossa imaginação, é que você não conhece rico sul-americano. Ou brasileiro.



PMA, fev 2011


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