quinta-feira, dezembro 24
Por falar em "Carta do Zé"...
A "Carta do Zé", que transcrevi abaixo como me enviaram, fez-me lembrar de uma experiência que tive há vinte anos atrás.
Na década de 80, minha mulher e eu resolvemos morar num lugar tranquilo, próximo de São Paulo. Compramos uma casa em Itapecerica da Serra e fizemos uma reforma completa nela, com arquiteto e decoradora.
O terreno, gramado, tinha 1.500 metros quadrados, aos quais se adicionaram mais outros tantos do terreno adjacente. Tudo gramado, com palmeiras, churrasqueira e rede. Uma paisagem espetacular e uma casa confortável, entre bosques e outros gramados e pastos. A decoradora foi a Carolina Szabò. Ficou uma jóia.
O terreno ficava num bairro perto do centro, no meio de um loteamento onde não se podia registrar propriedade com menos de 1.500 metros quadrados.
No final do ano, recebemos uma notificação do INCRA e uma multa, por não estarmos em dia com alguma providência burocrática do mesmo. E ainda comunicavam que nossa propriedade estava incluída no programa de desapropriação imediata para fins de reforma agrária.
Fui à Prefeitura e me recomendaram que não fizesse nada, pois o Prefeito, para preservar o interesse dos moradores, havia decretado que toda aquela área passava então a ser zona urbana.
Nada fiz e nada aconteceu.
Pouco depois voltei a morar aqui em São Paulo.
Há pouco tempo passei por lá de carro. Toda a área virou uma enorme favela. Algumas pessoas compravam os terrenos de 1.500 metros quadrados e construíram dois, três, quatro casebres, que vendiam ilegalmente para famílias pobres ou alugavam.
Toda a região tornou-se um alongamento de uma enorme favela de Mogi Guaçu, que invadiu aquela zona de Itapecerica. Adeus, bosques, adeus pastos, adeus paisagens. Mato ainda tem para esconder fugitivos da Polícia e restos de desmontes. Carcaças de carros havia muitas nos caminhos onde antes eu praticava um jogging solitário de manhã. Regularmente encontravam corpos (de gente) entre as moitas.
Mas eu não lamento a feiúra da pobreza. Nem pobre gosta de pobreza. Eu nunca entendi a inatenção e a confusão do INCRA. Com tantos pobres por aí e com uma burocracia que pretende desapropriar casas em terrenos de 1.500 (para plantar o quê?), a miséria prolifera como sempre.
Mas o mais grave, grave mesmo, é que toda aquela mata e os bosques foram arrasados, hoje a região está devastada e suja - apesar de ser, há muitas décadas, zona de proteção ambiental e reserva de manancial da represa que abastece São Paulo.
Nem zona urbana podia ser...
FELIZ NATAL A TODOS!
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