domingo, dezembro 20

As energias do futuro e os futuros do Pré-Sal: (III)


(III) Aonde queremos chegar, afinal?



Quando enveredei por este exercício de pesquisa e prospecção de futuros, pensei em produzir um material mais simples, mais leve e mais breve.
Mesmo assim, era-me patente que não seria possível resumir todos os dados numa única crônica ou num pequeno ensaio. Resolvi então dividir o trabalho em três partes:
§                        energias renováveis,
§                        as energias do futuro,
§                        os futuros do Pré-Sal.
O resultado das duas primeiras partes foi mais pesado do que eu antevia.
O Mário Castelar, sabiamente, me deu um puxão de orelha: elogiando o trabalho, disse que não podia ser tão extenso para publicação na internet.
E ele tem razão. Esta, que seria a terceira e última parte, estava ficando ainda mais longa do que as demais. Cada dia que passa requer uma atualização e, embora isso não afete as conclusões deste trabalho, é impossível publicar algo hoje sobre energias sem menção do fracasso da Conferência de Copenhague.
Resolvi então dividir o que resta de minhas elucubrações, de modo que acabaremos com mais os seguintes capítulos para encerrar a matéria, em não sei quantas partes publicáveis neste blog:
3.                  As possíveis soluções de médio prazo
4.                  O campo de Incertezas e os eixos que o mapeiam
5.                  Cenário I: Brasil, uma potência energética
6.                  Cenário II: Brasil, uma potência econômica e industrial
7.                  Cenário III: A Doença Holandesa (ou ainda: Brasil, uma nova Venezuela)
8.                  Cenário IV: Brasil, um gigante ainda adormecido
9.                  Conclusões: estratégias e recomendações para uso imediato


Por quê Cenários e “Futuros”, no plural?

 Quando pensamos no futuro do petróleo do Pré-Sal brasileiro, estamos preocupados não apenas com o petróleo em si, mas com o futuro do País – que, reconhece-se, pode ser tremendamente impactado pela descoberta dessas jazidas.
Uma das premissas da metodologia de Cenários é a de que, a longo prazo, é impossível prever o futuro. Ignoramos o que pode acontecer até lá. Qualquer projeção a partir da situação atual pode revelar-se fútil, pela interveniência de fatores imprevistos e pelas mudanças da situação.
Falamos, então, de futuros alternativos – assim no plural – cuja utilidade é nos facilitar a busca de estratégias que, se adotadas hoje, poderão nos beneficiar e proteger, sob várias hipóteses alternativas.
O importante, portanto, é saber se os nossos cenários cobrem razoavelmente bem as alternativas conflitantes de dúvidas e incertezas – e não se algum deles é mais provável do que os outros.
Deixamos de lado o desejo de acertar e de antever futuros desejáveis e indesejáveis, prováveis e improváveis, otimistas e pessimistas. Essas são considerações que cabem em metodologias de previsões, mas não na de Cenários, que constitui um exercício de Futurologia (um termo evitado no Brasil e na França por temor de suas quase que inevitáveis conotações negativas, mas amplamente usado nos países anglo-saxões).
Em Futurologia, você tem de se habituar a responder “Não Sei” quando lhe perguntarem o que é mais provável ou mais certo. Quase certamente nenhum cenário se realizará como descrito hoje, a não ser por mera coincidência governada pelo acaso e não pela nossa sabedoria.
Mas, no seu conjunto, esses cenários nos auxiliarão a preparar-nos e a treinarmos para o futuro – imprevisível, por definição – que teremos de viver. Com cenários, estaremos prontos para definir os indicadores relevantes a serem monitorados desde já e o quê fazer a respeito. Poderemos acompanhar o desenvolvimento e a direção de tendências, a fim de mantermos nossa antevisão sempre atualizada.
Cenários baseiam-se nas dúvidas que temos, e não nas certezas atuais, que são inúteis a longo prazo.
E dúvidas, dados, informações ou hipóteses a respeito das energias e do Pré-Sal não nos faltam, como vimos nas duas primeiras partes deste trabalho.

Incertezas e tendências

A primeira parte do trabalho (“Energia Renovável”) concentrou-se no que hoje se entende, comumente, como energia renovável aqui no Brasil. É interessante notar que, sob certo aspecto, trata-se de um entendimento mais ou menos limitado.
Com efeito, nos Estados Unidos e na Europa hoje existe uma tendência a considerar que “renovável” são apenas a energia solar e a eólica, na medida em que não consomem qualquer tipo de combustível. Noto isso apenas porque diferenças semânticas geram às vezes divergências inúteis.
A segunda parte do trabalho (“As Energias do Futuro”) examinou, em linhas gerais, as alternativas seculares a partir de um trabalho de T. Modis utilizando o que poderíamos chamar de “Lei” Logística. São tendências bem gerais e o que perdemos em especificidade ganhamos em desafio para discutir prazos mais amplos, ciclos de Kondratiev alongados, etc.
Mas o quê podemos dizer do futuro mais próximo, isto é, dos recursos disponíveis na transição de uma economia de carbono para uma outra fonte de energia, qualquer que ela seja?
Ou seja, o que se prepara hoje para enfrentar o desafio do aquecimento global, do futuro do crescimento mundial, da sobrevivência de nossa civilização e talvez do planeta?
A conferência de Copenhague foi um fracasso retumbante. Isso tem tudo a ver com o assunto que estamos pesquisando.
Mas, alerto o leitor, não procuremos aqui resolver os problemas do mundo; nosso propósito é apenas examinar as alternativas que se apresentam para o Brasil com a exploração do Pré-Sal num mundo que procura, mas não consegue, desvencilhar-se da dependência do petróleo.
PMA/AnEx 20/12/2009

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