sexta-feira, maio 6

Finalmente o Governo joga a toalha





Depois de espernear na mídia e de algumas tentativas frustradas no mercado de câmbio, finalmente o Governo brasileiro jogou a toalha. Manchete do Estadão (5 de maio de 2001, capa do Caderno de Economia e Negócios):

"Governo desiste de mudança radical no câmbio e usa real forte contra a inflação"



Nada mais restava ao Governo, é claro. Comprar dólares para manter a cotação do real (ou mesmo melhorá-la, em benefício de nossa indústria) não dá mesmo. Não sou economista, mas sempre soube disso.


Vejam, nos Estados Unidos e nos países de cotação AAA ou parecida os juros estão a praticamente zero, um, dois, por cento ao ano.  


Aqui nós falamos em números parecidos de juros ao mês. E de números de dois a três  algarismos ao ano. Nada melhor e mais garantido do que tomar empréstimos nos Estados Unidos e aplicar no Brasil. E o Brasil, com sua política econômica liberal, depende dessa especulação para fechar as contas e pagar os juros de uma dívida pública que só tende a crescer.


Sem medidasmenos ortodoxas e atuação do Governo no mercado de capitais, sobra apenas a taxa de juros para tentar equilibrar os preços. E o resultado é perverso: quanto maior a taxa de juros, maior a liquidez que o País atrai e maior o perigo de um inflação descontrolada.


A inflação já está aí faz tempo. Desde o Plano Real, quando falamos em inflação controlada, é porque estamos achando desprezível uma inflação de mais de 3%, 4% ou mesmo, historicamente, 6 ou 7% ao ano. Incidentalmente, os economistas de plantão no mundo todo estão alertando para o "pânico" das autoridades chinesas com o crescimento chinês, que está trazendo uma inflação absurda e imprevista. De 3% ao ano. Quá, quá, quá...


Na matéria do Estadão, revela-se que "[a] estratégia é aproveitar a cotação do dólar baixo para importar produtos que complementam o consumo interno com preços mais baixo (sic) aos consumidores". E mais adiante, cita-se o Ministro Fernando Pimentel do Desenvolvimento: "É preciso conviver com o câmbio".


Em outras palavras, a indústria nacional que se dane - pois, como declarou "um aliado" de Dilma, "Nem pensar na hipótese de uma aceleração da inflação... Isso significaria perder todo o nosso cacife político".


Com a política ortodoxa em curso desde o Plano Real e o desmonte iniciado no Governo Collor, vamos cada vez mais ser uma economia dependente. Talvez uma colônia cheia de gadgets e exportadores de commodities e aparelhos aqui montados por grandes multinacionais. 


Se conseguirmos a vitória do etanol, sonho brasileiro de adoção mundial desse combustível, a ser produzido no Brasil, vamos nos tornar um imenso Nordeste, no pior sentido histórico: plantadores de cana de açúcar, talvez até ricos per capita. 


Você sabia que, no Século XVII, no auge do monopólio brasileiro do açúcar, os brasileiros eram as pessoas mais ricas do mundo?


É claro que, entre os brasileiros, não se contavam escravos (africanos e crioulos, i.e., negros criados aqui mesmo), que eram apenas ativos possuídos pelos brasileiros. Vejam no que deu...


Seguindo essa direção, seremos cada vez mais uma nação dependente. 


Não foi esse o caminho que levou os Estados Unidos a ser o que são. Nem o Reino Unido, nem todos os demais países capitalistas desenvolvidos. Nem a China, nem a Coréia.


Logo mais estaremos comentando o que significa realmente a globalização. Ou a "globoseira" ("globalloney"), tal como denominada em matéria de The Economist.






maio 2011



Nenhum comentário: